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A embalagem e o meio ambiente

A embalagem é um elemento indispensável para a proteção e preservação de produtos, sendo fundamental para a logística de sua distribuição desde os centros de produção até o consumo. A embalagem é parte do produto. A perda de produtos por falha ou pelo não uso de embalagem traz conseqüências negativas para o meio ambiente, muitas vezes maiores do que o custo ambiental da fabricação e disposição final de uma embalagem adequada. É comum o consumidor e o público, em geral, apenas associarem a embalagem a um instrumento de marketing e se preocuparem com o resíduo de embalagem pós-consumo. Porém, a questão é muito mais ampla e complexa.

Geralmente se esquece ou se desconhece que a embalagem protege o produto contra os fatores externos de deterioração (químicos, físicos, microbiológicos e mecânicos), conserva sua qualidade por mais tempo, aumenta sua vida útil, dando chance à distribuição e permitindo o abastecimento da sociedade. A embalagem evita a contaminação microbiológica dos produtos, reduz a transmissão de doenças e a proliferação de insetos e roedores. A especificação adequada da embalagem é importante para evitar seu superdimensionamento, por isso, muitos projetos são desenvolvidos no sentido de reduzir o peso/quantidade de embalagens. Entretanto, a especificação deve ser objetiva, pois o não uso de embalagens ou o emprego de embalagens inadequadas ou subdimensionadas representam perda do produto e de tudo o que foi investido pela sociedade e pelo meio ambiente para a sua fabricação. Logo, aproveitamento de recursos, redução de perdas, aumento de vida útil, segurança alimentar e abastecimento da sociedade também são temas fundamentais à discussão sobre preservação de recursos do meio ambiente e não apenas o destino da embalagem pós-uso.

Um grande empecilho para a compreensão da dimensão da importância da embalagem na redução de perdas é a não contabilização das perdas de produto pelo não uso ou pela falha de embalagens. Não utilizar embalagem não é a solução para a redução do resíduo sólido urbano, inclusive, essa opção simplista acarretaria um aumento expressivo do desperdício e do volume de resíduos. É óbvio que o resíduo de embalagem pós-consumo deve ser melhor aproveitado pelo seu valor intrínseco, sendo soluções efetivas o gerenciamento integrado do resíduo sólido urbano, a coleta seletiva, evitando a contaminação do material reciclável pelo lixo orgânico e a universalização da coleta. Por fim, e não menos importante, é a conscientização da população sobre as conseqüências da disposição inadequada das embalagens usadas nas ruas, um dos grandes problemas atuais.

Há um padrão na Europa, a Diretiva 94/62/CE, que recomenda a redução da quantidade usada de embalagens reflete que o peso e volume das embalagens devem ser os mínimos adequados para manter os níveis de segurança, proteção, higiene e aceitação necessários para o produto acondicionado e para o consumidor. Deve-se lembrar ainda que num sistema de embalagem devem agir integradas as embalagens primária, secundária e de distribuição, de modo que o conjunto desempenhe, de forma otimizada, sua função, ou seja, reduzir demais o peso da embalagem primária, por vezes necessitará reforçar a embalagem de distribuição, de tal forma que o ponto de equilíbrio do uso racional dos recursos do meio ambiente é ultrapassado.

Da mesma forma, quanto maior a capacidade da embalagem, menor será o consumo de materiais e seu impacto ambiental pela função por ela exercida (grandes volumes são favoráveis). Entretanto, a capacidade da embalagem deve combinar com o potencial de aproveitamento do produto pelo consumidor; se parte do produto se perder após abertura da embalagem por não ter sido consumido dentro do prazo de validade, o prejuízo para o meio ambiente pode ser maior pelas emissões para água, pelo resíduo sólido gerado e pelo próprio desperdício do produto, que também tem um custo ambiental associado.

Por isso, surgiu o conceito do ecodesign que em todo o processo que contempla os aspectos ambientais em todos os estágios de desenvolvimento de um produto, colaborando para reduzir o impacto ambiental durante seu ciclo de vida. Isto significa reduzir a geração de lixo e economizar custos de disposição final. Sua definição proposta por Joseph Fiksel diz que o projeto para o meio ambiente é a consideração sistemática do desempenho do projeto, com respeito aos objetivos ambientais, de saúde e segurança, ao longo de todo ciclo de vida de um produto ou processo, tornando-os ecoeficientes.

O conceito de ecoeficiência, por sua vez, sugere uma importante ligação entre eficiência dos recursos (que leva à produtividade e lucratividade) e responsabilidade ambiental. Assim, a ecoeficiência tem também um sentido de melhoria econômica das empresas, pois eliminando resíduos e usando os recursos de forma mais coerente, empresas ecoeficientes podem reduzir custos e tornarem-se mais competitivas, obtendo vantagens em novos mercados e aumentando sua participação nos mercados existentes por conta de padrões de desempenho ambiental que se tornam cada vez mais comuns, principalmente em mercados europeus.

O ecodesign é o instrumento que conecta o que é tecnicamente possível no campo das tecnologias limpas com o que é culturalmente desejado no campo da consciência ambiental. Com essa capacidade de perceber e interpretar potenciais técnicos e expectativas sociais e projetar novas soluções, o ecodesign pode positivamente acelerar a mudança nos processos de produção e consumo.

No que se refere à relação com a indústria e com o conceito dos produtos, o ecodesign pode estimular o reconhecimento social pelas escolhas ambientais, sustentando uma estratégia de produto ou de uma corporação inteira, contribuindo para o sucesso em termos econômicos também. A necessidade de integração entre questões técnico-produtivas e culturais, típica da sociedade pós-industrial, é entendida pelas empresas que adotam uma estratégia ecológica: o que é tecnicamente possível e o que é ecologicamente necessário pode ser expresso também como o que é social e culturalmente apreciado. A melhor solução ecológica é, portanto, não apenas uma solução técnica. É uma solução técnica tanto quanto uma qualidade apreciada pela sociedade e uma estratégia de comunicação do produto e da empresa que o produz, trazendo o reconhecimento.

Os conceitos relativos ao ecodesign incluem:

  • Recuperação de material: os materiais utilizados devem estar o mais próximo possível de seu estado natural para que sejam facilmente recuperados. Materiais compostos são de difícil recuperação e reciclagem, pois muitas vezes não é possível a separação dos componentes originais.
  • Projetos voltados à simplicidade: produtos de formas simples – sem descuidar do fator estético – geralmente têm custo de produção menor, pois utilizam menos material e permitem maior facilidade de montagem e desmontagem.
  • Redução de matérias-primas na fonte: visa reduzir o consumo de materiais ao longo do ciclo de vida do produto – uma das alternativas mais desejáveis em termos de redução do impacto ambiental, uma vez que reduzindo o consumo de matérias-primas reduz-se também a quantidade de resíduos gerados.
  • Recuperação e reutilização de resíduos: durante todo o ciclo de vida de um produto são produzidos diversos tipos de resíduos. O descarte após a vida útil é apenas uma fração destes resíduos, que se encontram também durante a fabricação e o uso. É importante a adoção de tecnologias que recuperem os resíduos, aproveitando o máximo da matéria-prima, obtendo ganhos econômicos e ambientais.
  • Uso de formas de energia renováveis: um dos pressupostos do desenvolvimento sustentável é a utilização de formas de energia que utilizem recursos renováveis, como a solar, a eólica e a hidroelétrica, substituindo as que utilizam recursos não renováveis em curto prazo, como os combustíveis fósseis. Por recursos renováveis, entende-se como aqueles cuja taxa de renovação é suficiente para compensar sua utilização.
  • Uso de materiais renováveis: pode-se optar por utilizar materiais renováveis como substitutos de materiais não renováveis. Como exemplo podem ser citadas as tintas de origem vegetal substituindo as químicas, e as madeiras de reflorestamento.
  • Produtos com maior durabilidade: a extensão da vida útil de um produto contribui significativamente para a ecoeficiência, pois fica claro que um produto durável evita a necessidade de fabricação de um substituto.
  • Recuperação de embalagens: a aplicação desta prática prevê que as embalagens possam ser reaproveitadas, seja na reutilização ou na reciclagem. A utilização de produtos com refil é um bom exemplo de reutilização de embalagens. Para tanto, é importante que os fabricantes assumam a responsabilidade pelas suas embalagens e desenvolvam sistemas de recolhimento que facilitem a reutilização ou a reciclagem.
  • Utilização de substâncias a base de água: substituição de produtos (principalmente solventes e tintas) a base de petróleo por produtos a base de água.
  • Facilidade de montagem e desmontagem: móveis que podem ser montados e desmontados facilitam o transporte e a reciclagem ou reuso, além de reduzir os custos com transporte.
  • Baixo consumo: produtos que consomem menos energia também são ecoeficientes.

Fonte: Qualidade Online



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